sexta-feira, 29 de maio de 2009

aquilo que só eu entendo

Um dos maiores fantasmas humanos são nossos sentidos. A incapacidade de descrever o que vemos, o que sentimos, para aqueles que jamais sentiram algo parecido chega a fazer o peito doer de angústia. Assim como a experiência de um viajante é única e exclusiva, todos os fantasmas do desentendimento se alojam em sua alma. As paisagens ficarão para sempre gravadas em sua memória: o vento e o sol que aparecem de forma tão especial nesses casos; assim como as dores, medos e temores. Aquilo que ninguém jamais entenderá. E então, uma foto de recordação, que está repleta de emoção e significado não tem a menor graça para aquele que diz "Mas ficou fora de foco e torta". Essa incapacidade de compreensão e esse desinteresse ferirá com força nosso ser.

Não é pedir demais ser compreendido, mas por estratégia divina fomos restringidos a perfeita comunicação. Até entendo os motivos, pois em outro caso muitos não fariam questão de viver, teriam apenas a vida dos outros. Na verdade, muitos hoje, se escondem atrás de livros e filmes tentando viver outra história e deixando a sua história apenas como trailer. Quanta injustiça e armação do destino contra estas pobres almas! Se tornam hipersensíveis quanto ao mundo e começam a tentar tomar todas as dores pra si. Ajudam o mundo, mas destroem-se. Mas este é um outro papo.


O viajante, para sentir-se livre, precisa reaprender a viver simplesmente como criança. Sentir cada dia como único e preocupar-se menos com o futuro e o passado. Como já dito:

"Saiba que preocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para resolver uma equação de álgebra"
(Filtro Solar)

Maldito tempo, aprisionador de almas e capataz da sociedade consumista. Ninguém está livre dele, não importa o quanto lute. Gerenciador de fantasmas e servo dos deuses.


E no final das contas, só nos entendemos realmente quando falamos dele, o tempo. Ele, que não sentimos, mas conhecemos perfeitamente. E então, chegamos a uma bela e remota essência da alma humana:


Nos entendemos quando nos faltam palavras ou capacidade de definição. Nos entendemos quanto aos fantasmas que tentam nos aprisionar. Nos entendemos quando falamos de nós mesmos. Seres sem definição.
Rafael Bauth

Rafael Bauth Silva
(Maio de 2009)


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