terça-feira, 26 de maio de 2009

as chaves do moinho

Certa vez, um viajante cansado avistou um moinho distante de sua rota. Já desanimado em continuar sua caminhada e sem ter opção de parada ele decidiu por se abrigar no tal moinho. Chegando lá percebeu que estava muito sujo e que não funcionava mais. Sem saber ao certo o que fazer ele passou a noite escorado na madeira velha e úmida da antiga construção. Por estar sem lanterna e não possuir nenhuma luz, acreditou que lá dentro estaria em condições muito precárias para passar a noite.

Pela manhã nada estava diferente, mas o viajante escutou algo vindo do interior do moinho. Intrigado com tal fato ele resolveu chamar a atenção de quem é que estivesse lá dentro. Mas não escutando resposta decidiu voltar a sua peregrinação. Quando estava a caminho avistou algumas chaves jogadas próximo a entrada. Não entendendo ao certo do que se tratava ele imaginou que poderiam abrir a tal porta. De tanto tentar ele se cansou e o dia inteiro se passou. Sem opção ele acabou por passar mais uma noite ao lado do empoeirado moinho.

Desta vez ele acordou pela noite com gritos de socorro. Então percebeu que se tratava de alguma voz no interior do moinho que pedia por ajuda, para que a porta fosse destrancada. O viajante explicou que havia passado todo o dia tentando abrir a tal porta e que fora inútil. Desapontado ele escutou a voz lhe explicar que a porta estava aberta e que ele acabou por trancá-la com as chaves.

Aquele homem lá de dentro, desiludido, havia terminado a reforma de seu tão estimado moinho, no qual investiu anos de trabalho árduo. Agora estaria aprisionado para sempre na beleza e luxo que criara, tudo por culpa de um viajante teimoso e preconceituoso. E aquele homem tinha a certeza que jamais sairia de lá, afinal sua porta fora projetada para se abrir sempre sem as chaves do lado de fora, algo que o viajante jamais iria compreender (segundo o senhor do moinho), estaria muito além de sua lógica.

Naquela noite ambos choraram, praticamente lado a lado. Com um muro de madeira velho e muito incompreensão entre eles.

Rafael Bauth Silva
(Maio de 2009)

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