Motivado a entender um pouco melhor do assunto me propus a fazer uma experiência dividida em três partes: atuação, observação e nova atuação. O primeiro passo seria ir para rua e me apresentar artisticamente, não importando que linguagem artística optasse. Depois, tempo seria dedicado à observação de vários artistas, analisando o sucesso obtido e as características do trabalho. E por fim, me aventurar de novo nas ruas e ver se obtive algum avanço de performance.
Lá estava eu, violão nas mãos procurando um bom lugar pra ficar. Foi neste momento, sozinho, que percebi que não seria tão fácil quanto eu havia imaginado. Passei por vários bons lugares e me convenci de que estavam “cheios” demais. Após andar bastante e hesitar alguns momentos decidi parar e fazer logo o que eu havia planejado. O lugar era espaçoso e haviam alguns garotos jogando bola por perto. O barulho de construção era ouvido claramente e eu ainda não consigo entender porque acreditei que aquele seria um bom lugar. De qualquer forma, com os dedos gelados devido ao frio, peguei meu violão e timidamente dedilhei alguns acordes.
Mesmo tendo uma boa experiência no violão, quem me visse naquele momento acreditaria que eu fosse um mero aprendiz. A timidez arrancou-me habilidades que precisei dedicar anos a fio para adquirir. Meu olhar estava baixo, eu não conseguia encarar a rua e não faço idéia do porquê. Depois de uma eternidade inteira de atuação musical, cerca de dez minutos, me convenci de que eu não saberia fazer aquilo e abandonei a missão. Frustrado e derrotado, mas curioso em descobrir algo mais a meu respeito. Voltei pra casa e deitado na cama, refletia, enquanto tocava o violão com toda a habilidade que realmente tenho.
Meus ouvidos amanheceram diferentes. A cada músico que escutava nas ruas não me atentava apenas para a sua habilidade musical, criticamente como fazia antes. Eles começaram a ter um pouco mais do meu respeito, só pelo simples fato de estar lá, demonstrando coragem. Isso não é fácil, não é para qualquer um. Reparei então que a habilidade musical não estava necessariamente ligada ao número de moedas nos chapéus. E percebi vida, paixão e atitude entre tantos sentimentos envolvidos naqueles que geralmente roubavam a cena. Lembrei-me então do tempo que estudei teatro. E quando me ensinaram:“se você não acredita no que está representando, o público certamente não acreditará também”
Meus ouvidos amanheceram diferentes. A cada músico que escutava nas ruas não me atentava apenas para a sua habilidade musical, criticamente como fazia antes. Eles começaram a ter um pouco mais do meu respeito, só pelo simples fato de estar lá, demonstrando coragem. Isso não é fácil, não é para qualquer um. Reparei então que a habilidade musical não estava necessariamente ligada ao número de moedas nos chapéus. E percebi vida, paixão e atitude entre tantos sentimentos envolvidos naqueles que geralmente roubavam a cena. Lembrei-me então do tempo que estudei teatro. E quando me ensinaram:“se você não acredita no que está representando, o público certamente não acreditará também”
Talvez eu tenha me esquecido disso, no momento em que timidamente tentei me apresentar. Este foi o erro, apenas tentar. Não tive a certeza, não me preparei e não estava pronto pra desempenhar meu papel. Definitivamente, a paixão é capaz de superar todo estudo. Observei músicos que nem seguravam corretamente o violão, mas me faziam sentir vontade de sentar e os escutar durante horas. Em contrapartida não tinha paciência de me escutar por trinta minutos, mesmo tendo cerca de nove anos de estudos musicais.
O projeto não foi concluído. Não saiu como planejado e por isso o considero de grande sucesso. Antes, eu queria apenas compreender o que os artistas possuem. Acabei por descobrir o que não tenho, ainda. Acabei por relembrar várias lições que tinha aprendido e que não soube usar no momento certo. A vida é assim. Aprendemos, contudo insistimos em esquecer de usar o que sabemos. A diferença entre conhecimento e atitude é muito grande; por isso insisto sempre na idéia de transformar conhecimento em atitude. Não é fácil, eu sei! Tenho muitas dificuldades, mas uma convicção demasiadamente grande de que valerá a pena. São em momentos como estes em que me sinto verdadeiramente desafiado como ser humano, momentos preciosos.
Rafael Bauth