domingo, 30 de novembro de 2008

Arte de Rua

Em terras européias, principalmente nos grandes centros urbanos é muito comum encontrar artistas de rua. Não importa que tipo de arte apresentem, existe algo de especial naqueles que prendem a atenção do público. Um modelo bem razoável de classificar a qualidade do trabalho, sem dúvida é o número de moedas coletadas. Uma forma fria e calculista, porém, sensata. O público não se rende em jogar algumas moedas se usufrui de alguns momentos paralisados pelo feitiço dos artistas. Discursar a respeito é falar do âmago artístico, portanto, um assunto bem delicado.

Motivado a entender um pouco melhor do assunto me propus a fazer uma experiência dividida em três partes: atuação, observação e nova atuação. O primeiro passo seria ir para rua e me apresentar artisticamente, não importando que linguagem artística optasse. Depois, tempo seria dedicado à observação de vários artistas, analisando o sucesso obtido e as características do trabalho. E por fim, me aventurar de novo nas ruas e ver se obtive algum avanço de performance.

Lá estava eu, violão nas mãos procurando um bom lugar pra ficar. Foi neste momento, sozinho, que percebi que não seria tão fácil quanto eu havia imaginado. Passei por vários bons lugares e me convenci de que estavam “cheios” demais. Após andar bastante e hesitar alguns momentos decidi parar e fazer logo o que eu havia planejado. O lugar era espaçoso e haviam alguns garotos jogando bola por perto. O barulho de construção era ouvido claramente e eu ainda não consigo entender porque acreditei que aquele seria um bom lugar. De qualquer forma, com os dedos gelados devido ao frio, peguei meu violão e timidamente dedilhei alguns acordes. 
Mesmo tendo uma boa experiência no violão, quem me visse naquele momento acreditaria que eu fosse um mero aprendiz. A timidez arrancou-me habilidades que precisei dedicar anos a fio para adquirir. Meu olhar estava baixo, eu não conseguia encarar a rua e não faço idéia do porquê. Depois de uma eternidade inteira de atuação musical, cerca de dez minutos, me convenci de que eu não saberia fazer aquilo e abandonei a missão. Frustrado e derrotado, mas curioso em descobrir algo mais a meu respeito. Voltei pra casa e deitado na cama, refletia, enquanto tocava o violão com toda a habilidade que realmente tenho.

Meus ouvidos amanheceram diferentes. A cada músico que escutava nas ruas não me atentava apenas para a sua habilidade musical, criticamente como fazia antes. Eles começaram a ter um pouco mais do meu respeito, só pelo simples fato de estar lá, demonstrando coragem. Isso não é fácil, não é para qualquer um. Reparei então que a habilidade musical não estava necessariamente ligada ao número de moedas nos chapéus. E percebi vida, paixão e atitude entre tantos sentimentos envolvidos naqueles que geralmente roubavam a cena. Lembrei-me então do tempo que estudei teatro. E quando me ensinaram:
“se você não acredita no que está representando, o público certamente não acreditará também”
Talvez eu tenha me esquecido disso, no momento em que timidamente tentei me apresentar. Este foi o erro, apenas tentar. Não tive a certeza, não me preparei e não estava pronto pra desempenhar meu papel. Definitivamente, a paixão é capaz de superar todo estudo. Observei músicos que nem seguravam corretamente o violão, mas me faziam sentir vontade de sentar e os escutar durante horas. Em contrapartida não tinha paciência de me escutar por trinta minutos, mesmo tendo cerca de nove anos de estudos musicais.

O projeto não foi concluído. Não saiu como planejado e por isso o considero de grande sucesso. Antes, eu queria apenas compreender o que os artistas possuem. Acabei por descobrir o que não tenho, ainda. Acabei por relembrar várias lições que tinha aprendido e que não soube usar no momento certo. A vida é assim. Aprendemos, contudo insistimos em esquecer de usar o que sabemos. A diferença entre conhecimento e atitude é muito grande; por isso insisto sempre na idéia de transformar conhecimento em atitude. Não é fácil, eu sei! Tenho muitas dificuldades, mas uma convicção demasiadamente grande de que valerá a pena. São em momentos como estes em que me sinto verdadeiramente desafiado como ser humano, momentos preciosos.

Rafael Bauth

terça-feira, 25 de novembro de 2008

INTRODUÇÃO

Sendo esta minha primeira postagem, não soube ao certo o que escrever. Não que eu não tenha algo específico para falar, mesmo porque se fosse esse o caso nem teria criado esse blog. Costumo dizer a seguinte frase:
"Quando não se tem nada a dizer, não se diz nada ao escrever"
(Rafael Bauth)

Mas sendo estas minhas primeiras palavras aqui, eu desejava escrever algo que ao ler você retornasse ao blog mais vezes. Repito, se não fosse por você nem teria criado este blog.

Então, decidi por fazer uma breve introdução para que fique mais claro meu objetivo e o que você vai encontrar nas futuras postagens. Esse não é um blog puramente pessoal, de assuntos aleatórios e desconexos. Todos os posts estarão de alguma forma relacionados com o desenvolvimento pessoal. O que segundo meu ver, significa um aperfeiçoamento humano em direção de metas traçadas. Crescimento e evolução. Adaptação. Em geral, abordarei como metas: valores, virtudes e atitudes, capazes de nos modificar. Tais mudanças são capazes de melhorar nossa vida nos relacionamentos, tornando-os mais amenos, confiáveis e prazerosos. São capazes também de nos mudar, nos transformando em seres mais amáveis, livres, felizes, e confiantes. Muitas vezes serão capazes de nos fazer sentir como criança e outras vezes com o peso da responsabilidade de todo universo em nossas costas.
Este não é um blog de auto-ajuda
As experiências descritas serão baseadas em dois pilares:
- Os momentos de maior aprendizado humano se encontram em momentos adversos, ou quando experimentamos sensações, atitudes e pensamentos que nunca haviamos tido antes. Essa é uma das razões de eu abordar a viagem como sendo importante para o crescimento pessoal. Não é o único caminho, mas em viagens geralmente temos a possibilidade de sentir novos sabores, comer novos tipos de alimentos, ver outras paisagens, conhecer novas pessoas com diferentes idéias, crenças e costumes. É possível buscar por esse tipo de experiência e não apenas esperar que aconteçam.
- Performance, nome dado a interação de uma pessoa que tenha um objetivo específico com o público. Segundo idéias de alguns modernos teóricos, todo ser humano pode, por sua vontade, realizar uma performance com o objetivo de passar alguma mensagem ao público. Esta performance pode ainda, algumas vezes, nem ser percebida como intencional. Em outras palavras, com certas atitudes podemos fazer com que o público (seja quem estiver na cena de atuação da performance) reflita sobre algum aspecto que queiramos. Atitudes geram reflexões, que podem gerar novas atitudes. É neste ponto que de forma bem simples pode-se iniciar uma transformação social. Começando apenas com a sugestão e o convite para reflexão.
Portanto, neste blog postarei experiências não usuais (em geral), suas consequências e aprendizados. Postarei também experiências performáticas e as observações dos seus resultados. Acredito que a simples leitura, possa ser de grande valor. Mas convido-te a participar ativamente, repetindo as experiências e tomando suas próprias conclusões e se possível postando nos comentários. Porque como dito antes por Amyr Klink "O homem precisa viajar por suas próprias pernas".

Convido-lhe então a embarcar comigo nessa viagem, pela experiência do mais remoto de nosso ser. Objetivando sempre nosso crescimento pessoal e a transformação daqueles que nos cercam. Buscando uma vida mais próspera, justa, livre e feliz.
Obrigado,
RafaelBauth